sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Duas paixões: reggae e futebol

No mundo da bolinha e do gramado, a década de 1980 entra para a história como o início do fenômeno que ajudaria a marcar a fase moderna do futebol brasileiro. Entre outros fatores, é a partir de então que se expande o recrutamento de jogadores brasileiros para o mercado europeu. Transações milionárias e grandes manchetes na mídia internacional conquistam o coração e os anseios de praticamente todos os atletas.
E é justamente em 1980 que a chegada de um estrangeiro ao Brasil entraria para as páginas do esporte como um dos maiores encontros já promovidos em um campo de futebol. Não, não se tratava de um jogo profissional ou de uma partida incluída em algum dos campeonatos oficiais da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Na ensolarada tarde do dia 19 de março de 1980, o grande ícone mundial do reggae, Bob Marley, protagonizou uma histórica "pelada", ao lado de seus companheiros Junior Marvin (guitarrista dos Wailers) e Jacob Miller (vocalista do Inner Circle).
Foto: Autor desconhecidoAcima:Junior Marvin, Toquinho e suposto funcionário da gravadora.
Abaixo:Jacob Miller, Chico Buarque, Paulo César Caju e Bob Marley.
E quem bateu aquela bolinha com os jamaicanos foram cinco adoradas figuras da Música Popular Brasileira (MPB): Chico Buarque, Toquinho, Alceu Valença, Paulo César Caju e Chico (músico da banda de Jorge Ben Jor). O efeito catártico que o futebol provoca nas pessoas só é possível pela sua interdisciplinaridade, ou seja, a capacidade que ele tem de se relacionar de forma direta com outros aspectos da vida social, como a dança, a música, a política, entre outros.
Bob Marley e os outros jamaicanos vieram ao Brasil para participar da inauguração das atividades do selo alemão Ariola, do qual fazia parte a Island Records, gravadora original dos Wailers. Chris Blackwell (diretor da Island) e sua esposa Nathalie Blackwell também faziam parte da comitiva. Bob interrompeu as sessões de gravação que resultariam no álbum Uprising para vir ao Brasil.
Foto: Clori Ferreira

Bob mostra intimidade com a bola

Às 16h do dia 19 de março, o trio jamaicano chegou no km 18 da Avenida Sernambetiba, num campinho onde o time dos funcionários da Ariola jogavam contra alguns dos contratados da gravadora no Brasil, como Chico Buarque, Toquinho, Alceu Valença e outros.
Logo que eles chegaram os times foram rapidamente rearrumados: Bob Marley, Junior Marvin, Paulo César Caju, Toquinho, Chico e Jacob Miller de um lado; e do outro Alceu Valença, Chicão e mais quatro funcionários da gravadora. Antes de começar o jogo Bob ganhou uma camisa 10 do Santos e sorriu, dizendo "Pelé" para depois explicar que jogava em qualquer posição. Mas ele foi mesmo para o ataque e o placar foi de 3 a 0 para o seu time, com gols dele, de Chico e de Paulo César.

Foto: Autor desconhecidoÍcone do reggae volta satisfeito por conhecer o futebol brasileiro.

Caju, que jogou a Copa de 70, foi o mais festejado por Bob, que lhe disse: "Sou fã de seu futebol". Paulo César devolveu: "E eu, de sua música". Bob lembrou o campeonato mundial que marcou a ilha do reggae: ''Rivelino, Jairzinho, Pelé... o Brasil é o meu time. A Jamaica gosta de futebol por causa do Brasil". Os jamaicanos deixaram o Brasil no dia seguinte, 20 de março de 1980. Três dias depois, o músico estava jogando futebol no campo da Tuff Gong, em Kingston, quando um amigo chegou informando que Jacob Miller tinha acabado de falecer em um acidente de carro. Marley morreria de câncer em maio de 1981, aos 36 anos. O que parecia um simples encontro entre amigos transformou-se, então, em um grande símbolo da incrível interação entre o futebol e a música.

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